segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Biu Ji Experience!

E aí que na quarta-feira passada começamos a ver o Biu Ji dentro do Experience. E aí que foi o caos mesmo! =]

A ideia que ficou é que depois de fazer a base no Siu Nim Tau e fazer a energia fluir no Cham Kiu, mistura tudo e chacoalha no Biu Ji. É um tal de empurra pra lá, puxa pra cá, tudo pra desestabilizar o oponente.

A dificuldade está justamente aí, em entender como o oponente funciona, aprender a forma dele pensar, pra aproveitar um segundinho de descuido e tirar a estabilidade dele. Mesmo porque em teoria um oponente vai para uma batalha preparado, então ele tem a sua estrutura, sabe manter sua base, guarda, etc. Então não adianta partir pra cima porque ele vai estar preparado para se defender e se proteger, e se for possível desmontar um pouco essa preparação, vantagem pra gente.

Essa sessão foi praticamente em cima de um mesmo exercício, sem muita variação, o que foi até bom já que era uma mudança bem radical do que eu tinha visto até então. Deu pra suar um bocado!

Essa semana infelizmente não pude ir de novo na sessão coletiva hoje, mas na da semana que vem vou participar sem falta. Vai ser uma prática especial com o Mestre Fabio Gomes, que desenvolve um trabalho de Ving Tsun dentro das Forças Militares e Policiais do Rio de Janeiro. Minha presença lá já está garantida!

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Registro fotográfico!

Como tinha dito, pedi à SiFu que me mandasse algumas das fotos que tiramos no MoGun na semana passada. Ela me disse que só uma das que tiramos com todo o grupo ficou boa, mas me mandou mais outra foto. As duas estão aí:

SiBaak Tarryann acompanha a sessão infantil coordenada pelo SiHing Guilherme Farias
Foto de grupo ao final da sessão. À frente, SiBaak Tarryann e SiFu Ursula. Atrás, da esquerda para a direita, eu, SiHing Guilherme, SiHing Ronald, SiJeh Marília, SiSok Luiz Ratts e SiHing Leonardo.
Minha primeira foto no MoGun! =]

Antes da última sessão de quarta-feira a SiFu conversou comigo um pouco sobre o Experience, o que eu estava achando, e acabei falando com ela um pouco do que eu escrevi aqui há alguns posts atrás, que ele é interessante para dar um "gostinho" do que é o Ving Tsun, mas ao mesmo tempo nos deixa um pouco perdidos, porque não aprofunda em nada, mas pelo que eu entendi a ideia é essa mesmo. Nas palavras da própria SiFu, "o Ving Tsun Experience é um namoro, enquando que o Siu Nim Tau já é um casamento, onde se aprofunda o relacionamento".

Para se ter uma ideia, o Ving Tsun é formado por 6 níveis, e já estamos praticamente fechando o que vemos do segundo no Exsperience, na última sessão a SiFu disse que esta semana iríamos fazer uma "revisão" do Cham Kiu para em seguida entrarmos no próximo. E com isso, estamos dando uma corridinha pelos níveis. Como eu disse, só recentemente comecei a entender o que era o Tan Sau, e na quarta-feira a SiFu já veio com Bong Sau, e aí era mais uma coisa pra aprender "no susto". E se a gente parar muito pra pensar, quem está fazendo o exercício com a gente já deve ir fazendo outro movimento, meio que simulando uma situação mais real. Pelo menos com isso meus reflexos estão melhorando um pouquinho.

O que eu tenho percebido é que, de todas as dificuldades que estou tendo, talvez a maior seja a movimentação e posicionamento das pernas. E parece que isso só piora no Biu Ji!!
Também preciso melhorar um pouco mais a minha estrutura para não perder o ponto de referência...

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Novas experiências

Aconteceu bastante coisa desde o último post.

Na última sessão de quarta-feira fui apresentado ao Tan Sau, mas saí daquela sessão ainda sem entender bem o que era. Acontece que a SiFu estava envolvida com a organização dos eventos do fim de semana, e aproveitou que eu não tinha participado da sessão anterior para colocar o Esdras e o Ronald para comandarem a minha sessão. Na sessão que eu faltei os dois devem ter falado sobre e exercitado bastante o Tan Sau, e como eu não participei a SiFu pediu que eles me passassem a sessão.

Então eram o Esdras e o Ronald no comando da sessão, e mais 3 SiHings ajudando. Só que a coisa começou a ficar um pouco fora de controle quando todo mundo começou a tentar ajudar o Esdras, e eu comecei a receber muita informação junta, às vezes até informações contraditórias.

No final da sessão eu já estava conseguindo fazer os movimentos um pouco melhor, mas ainda sem entender direito o que eu estava fazendo. Continuei sem entender muito bem até a sessão coletiva dessa semana.

Mas antes da sessão coletiva vou falar um pouco sobre o que aconteceu no fim de semana. O SiGung (SiFu da minha SiFu) esteve no Rio de Janeiro neste fim de semana para uma série de eventos, e eu tive a oportunidade de participar de parte deles.

No sábado à tarde houve uma prática de Siu Nim Tau, que eu não pude participar já que eu ainda não estou  aprendendo isto, continuo ainda no Experience. À noite aconteceu uma cerimônia e um jantar, dos quais eu participei, e no domingo teve também uma prática coletiva com o SiGung, mas desta eu infelizmente não consegui participar.

A cerimônia do sábado foi bem interessante, primeiro porque foi a primeira cerimônia da família que eu pude presenciar, e também porque nela foram celebrados alguns marcos que não acontecem com tanta frequência. A cerimônia foi aberta com uma homenagem aos 20 anos de Família do Mestre Júlio Camacho, com um filme mostrando um pouco da sua história, muito interessante por sinal. Outros membros da família falaram sobre suas experiências com o Mestre Júlio Camacho, o que também foi interessante.

Depois da homenagem ocorreu uma cerimônia de Baai Si, em que 3 praticantes foram aceitos como discípulos, o que significa ter um compromisso vitalício com a família kung fu, e com seus respectivos SiFus. Pelo menos foi o que eu entendi... =]

A parte final da cerimônia foi a titulação de Mestre Qualificado para o agora já SiFu Felipe Soares "Moy Fei Lap". Segundo a minha SiFu esta é uma cerimônia não muito frequente, porque não é todo dia que alguém recebe o título de mestre e o reconhecimento por isso. Nessa cerimônia o mestrando recebe uma série de objetos que representam este novo "estado" de mestre, e a gente começa a entender um pouco melhor a origem e o propósito de alguns objetos que vemos no Mo Gun, como o busto do Grão Mestre Moy Yat, a placa que fica na entrada do Mo Gun (que eu não lembro o nome - não é fácil guardar e reconhecer todos esses termos chineses) e o próprio certificado de Mestre Qualificado, que para nós é bem mais fácil de compreender.

Depois das cerimônias e das fotos oficiais teve um jantar de celebração, e ao final do jantar mais algumas palavras, agora exclusivamente a respeito do novo SiFu, e mesmo sem o conhecer foi muito legal participar e ouvir aqueles depoimentos, sem contar o filme "A Master Is Coming"!! Como eu não conhecia muita gente e nem sabia muito o que acontecia na cerimônia, eu às vezes tinha a impressão de estar assistindo a tudo "de fora", mas foi muito legal ver o sentimento de união que permeava o lugar e as pessoas.

Na segunda-feira a nossa sessão coletiva teve a participação de uma praticante americana que está no Brasil, ela esteve treinando com o SiGung e está conhecendo as unidades Barra, Copacabana e Méier durante esta semana. Ela participou de parte da nossa sessão, mas somente com quem já estava em algum nível do Ving Tsun propriamente dito, e não no Experience. No final da sessão tiramos algumas fotos para registrar a visita, vou ver se a SiFu me manda (junto com o nome da nossa visitante) para colocar aqui no blog depois, assim como alguma de sábado se conseguir.

Nessa sessão fizemos alguns exercícios de fluxo de energia, aceitando o golpe do outro para a partir dele tirar alguma vantagem e tentar utilizar esta energia a nosso favor. E foi aí que eu comecei a entender um pouquinho melhor (mas bem pouquinho) o que é o Tan Sau, como tentar me posicionar melhor para aproveitar essa energia do outro, pensar mais na movimentação, esse tipo de coisa. Foi como eu disse no final da sessão, eu ainda não tenho muito com o que trabalhar durante essas sessões coletivas, ou pelo menos eu acho, e por isso tem vezes que eu "travo" no meio de um exercício, por não saber o que fazer, onde colocar as mãos, como devo me posicionar, essas coisas. Mas a SiFu falou uma coisa que é interessante, que as sessões de segunda são boas exatamente por isso, pelo imprevisível, por nos fazer responder a qualquer estímulo que vamos receber ali, já que é uma sessão "sem controle" (dentro de alguns limites, claro). É quase como um improviso, e agora eu me lembrei de novo lá daquele vídeo que eu coloquei há alguns posts atrás, da palestra do TED que fala sobre o "trickster", quando ele aceita a verdade do outro e a partir daí constrói suas ações. A sessão de quarta é estruturada, enquanto a de segunda é mais solta. A sessão de segunda é pra colocar um pouco de caos na ordem... ;)

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Recapitulando...

Desde meu último post já aconteceram mais algumas sessões que eu não coloquei aqui. Como eu disse, comecei a fazer as sessões coletivas de segunda-feira, que tem sido interessantes,  bem diferente das sessões que eu faço às quartas.

Na primeira que participei, no dia 06/08, fizemos uma prática de agarramento que foi evoluindo durante a sessão, mas basicamente uma pessoa deveria imobilizar a outra agarrando (tipo um abraço), e a segunda pessoa deveria fazer diversas ações para se livrar. O propósito principal dos exercícios era reforçar os conceitos da base, mais especificamente o "enraizamento".

A sessão seguinte, na quarta-feira, 08/08, foi uma evolução da anterior, usando o soco e a movimentação. Foi interessante porque fez um conjunto muito legal com as 2 anteriores (a de quarta e a coletiva da segunda), com uma progressão do exercício, mesmo que "sem querer", já que a sessão coletiva não foi feita pela SiFu.

Na semana passada só fiz a coletiva do dia 13/08, em que tínhamos que pensar em movimentos para atacar um oponente, mas sempre tomando o cuidado de finalizar o movimento em uma posição em que teoricamente o oponente não poderia nos alcançar. Legal nessas sessões é que, mesmo não tendo visto muita coisa ainda, já que estou fazendo o Experience, é que já preciso começar a pensar em como fazer determinadas coisas, como resolver as situações. Acho que é o que falam do "pensamento estratégico", a gente precisa elaborar uma forma de resolver a situação.

Essa semana volto ao normal, indo às duas sessões. E no sábado vai ter um evento com o SiGung Leo Imamura, depois coloco mais sobre o evento aqui...

domingo, 5 de agosto de 2012

Início do Cham Kiu (Ving Tsun Experience)

Na última quarta-feira fiz a sétima sessão de Ving Tsun Experience. Como eu disse no post anterior, foi o início das noções do Cham Kiu que vamos ver. Isso quer dizer que começamos a andar, ou mais precisamente, movimentar as pernas. Assim são mais dois membros para prestar atenção e controlar.

O Ving Tsun Experience/Siu Nim Do é interessante porque, em teoria, é uma "amostra" do que é o sistema Ving Tsun, então, em teoria, não deve ser tão rigoroso com as formas como eu acho que deva ser no treinamento propriamente dito. Mas em compensação, nós precisamos tentar fazer as coisas minimamente certo para conseguirmos avançar nos exercícios. Então tem um pequeno conflito aí.

Como o Ving Tsun é um sistema, o que eu vejo hoje deve ser construído com base no que eu aprendi ontem. Por isso se eu não faço direito a parte de ontem, a parte de hoje não vai funcionar. E é aí que eu vejo o conflito. Se é uma amostra e não temos a preocupação total com a perfeição dos movimentos ou das posições, não vamos ter 100% do resultado esperado, mas por outro lado, os 100% do resultado nós só devemos ver depois do final do Ving Tsun Experience. Na verdade o que gera este conflito é mais a nossa expectativa do que o Ving Tsun Experience propriamente dito. Bem, a minha expectativa pelo menos!

E aí eu volto à sessão, onde começamos a nos movimentar ao mesmo tempo em que desferimos nossos socos Yat Ji Chung Choi! Mas não é só sair andando e socando. Como eu disse, isso tem que ser feito com base no que aprendemos antes, então para eu conseguir dar um passo e desferir um soco com sucesso dentro do exercício, preciso prestar atenção em uma série de coisas, a partir do momento em que conecto a energia com o parceiro do exercício: Qual o estímulo que estou recebendo? Com base nesse estímulo, qual movimento devo fazer? Como está a minha base Yi Ji Kim Yeung Ma? Como está a posição dos meus ombros? Como está a posição dos meus cotovelos? Depois de verificado isso tudo, devo dar um passo para ocupar o espaço do oponente. Ao mesmo tempo em que dou o passo, devo levar minha energia para frente, para deslocar o oponente. Feito isso, devo fazer o movimento do soco. Não esquecendo da posição dos ombros, cotovelos, e da mão da retaguarda! Ao final do movimento, checar tudo de novo e preparar para o próximo.

E depois ainda fiz outro exercício, sem a guarda do mobilizador, na verdade ele apenas recebe os socos, mas ditando o meu movimento para frente ou para trás. E nesse exercício entrou mais um ponto de atenção, que é a sequência de socos, tentando manter sempre uma das mãos no ponto de alcance máximo enquanto a outra inicia o movimento de soco seguinte, para impedir que o oponente ocupe o meu espaço.

A gente começa a desconstruir o corpo dentro da nossa cabeça para tentar ter consciência de todas essas partes e colocá-las para trabalhar independentemente, mas por um propósito comum.

É um pouco como quem vai aprender a tocar bateria - se você não consegue movimentar os braços e as pernas independentemente uns dos outros, não vai conseguir fazer uma batida boa, mas em compensação não adianta usar só um braço ou uma perna, tudo tem que ser usado ao mesmo tempo. É, acho que preciso voltar pro meu RockBand! =]

No final da sessão a SiFu nos convidou para participar das sessões de treino coletivo às segundas-feiras, então amanhã eu devo ir ver como é isso.

terça-feira, 31 de julho de 2012

Escrevendo aqui rapidinho, só pra não deixar a sessão da última semana passar em branco.

Antes de começar a sessão, ficamos conversando um pouco com a SiJeh Marília, que nos contou um pouco da sua história na família, inclusive como no início essa história de "família kung fu" era um conceito estranho para ela, mas que depois tudo foi se encaixando. Também estou um pouco nessa, mesmo porque ainda estou fazendo o "Ving Tsun Experience" né... Foi uma conversa breve mas bem interessante com ela e o SiHing Ronald.

Começada a sessão, a SiFu nos deu uma breve explicação de alguns termos utilizados entre os praticantes do Ving Tsun, como SiFu, SiHing, SiJeh, SiDai, etc, e comentou que achou interessante eu ter lembrado dos termos para colocar aqui no blog. Tive que confessar que eu não lembro de tudo, de vez em quando eu uso uma cola! A maioria dos termos, principalmente da primeira sessão, eu realmente me lembrava quando fui escrever, mas para outros eu tenho consultado um glossário que encontrei no site WingChunPedia, que vou colocar nos links ali do lado direito. O site está em inglês...

Continuamos evoluindo no exercício que vínhamos fazendo, e desta vez começamos a fazer movimentos de soco, o Yat Jee Chung Choi. E sim, eu fui olhar no glossário para colocar o nome aqui! =]

Esta foi a última sessão de Siu Nim Tao durante o Siu Nim Do, na sessão de amanhã vamos "começar a andar", iniciando as sessões de Cham Kiu do Siu Nim Do.

(Eu disse que este post seria rapidinho...)

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Kung Fu, Newton e stand-up comedy?

Na quarta-feira fiz a quinta sessão, segunda já com a "turma" formada. Foi uma sessão bem cheia, com o acompanhamento de vários SiHings. A Fernanda também foi para ver a aula, mas ficou só sentada no cantinho, sem participar mesmo! =]

No começo fizemos o Siu Nim Do, com um SiHing fazendo uma pergunta para cada um. Na minha vez, quando o SiHing Paulo foi me fazer a pergunta, eu já sabia antes mesmo dele começar a falar qual seria. É que mais uma vez eu esqueci de fazer o mesmo movimento durante o Siu Nim Do. Preciso prestar mais atenção. O mais incrível é que este é o movimento que estamos usando frequentemente para os exercícios de mobilização, e quando treino em casa eu não esqueço dele!

Fizemos então mais uma vez os exercícios, e desta vez quem nos mobilizou foram todos SiHings "novos", ou seja, que nunca tinham feito o exercício conosco. E como a SiFu falou na sessão anterior, com cada pessoa o exercício vai ser diferente, cada um tem o seu jeito de fazer, sua força, sua energia. Era a primeira vez que o SiHing Paulo fazia o papel de mobilizador, e o nosso desafio era ainda maior, segundo a SiFu nós teríamos que mobilizar o mobilizador a nos mobilizar (nó no cérebro, alguém?)...

Ainda estou aperfeiçoando minha postura e o meu uso dos cotovelos, tomando o cuidado de não utilizar os ombros como gerador de força, mas algumas vezes fica complicado. O movimento mais natural até agora ainda é gerar a ação a partir dos ombros, mas isto não é o ideal porque cansa, pode machucar, desfaz a estrutura montada com o Yi Ji Kim Yeung Ma e ainda faz com que os cotovelos "abram", deixando o tronco desprotegido. Várias vezes eu paro o movimento logo depois de começar porque sinto que estou iniciando pelo ombro e quero evitar isto.

Apesar de a sessão inteira ter girado em torno deste exercício, no meio da sessão a SiFu introduziu um novo conceito para nós, que teríamos que utilizá-lo no exercício. No final, ao invés de projetar a energia para arremessar o oponente, deveríamos entrar em uma posição de guarda (a SiFu falou o nome algumas vezes, mas infelizmente não guardei). Esta posição coloca as duas mãos abertas, "em linha" à frente da pessoa.

Discutimos um pouco sobre o conceito de guarda, do porque desta guarda ser deste jeito ao contrário da guarda do boxe, por exemplo, que proteje bastante a cabeça e já deixa preparado para o golpe. No caso da guarda do Ving Tsun, não se protege nenhuma região tão especificamente quanto os outros exemplos que vimos, e o intuito é exatamente prover uma neutralidade. Uma vez que os braços e as mãos estão em uma posição neutra, central, é mais prático e rápido responder aos ataques acima, abaixo e aos lados do que se os tivéssemos totalmente para cima ou para baixo. As mãos retas e levemente à frente também são um meio-termo entre uma posição de ataque (soco, mão fechada e projetada para frente) e uma de defesa (mão espalmada e um pouco mais próximo do corpo).

Quando começamos a fazer o exercício com a guarda, o SiHing Paulo me deu uma informação para me orientar, mas que no final das contas acabou me gerando uma pré concepção de como deveria fazer o movimento. Quando a SiFu veio fazer um pouco o exercício comigo, e eu já tinha esta ideia na cabeça, numa primeira vez a coisa funcionou, mas na segunda ela inverteu o lado de onde a força dela vinha e, nas suas próprias palavras, a minha cabeça "deu tilt"! Eu travei o movimento e não sabia como sair dali para a posição final da guarda. Com base nisso a SiFu chamou todos para verem o nosso exercício e como eu estava tendo dificuldades em entrar na guarda uma vez que ela invertia o origem da força. Eu entendi o que estava acontecendo, mas não conseguia resolver a situação.

Isso gerou também uma discussão sobre estar preparado para pegar a informação que se está recebendo e trabalhar a partir dela. Que talvez não exista uma posição exata ou perfeita, mas sim a mais prática e mais proveitosa. No final das contas, numa situação de crise, o ideal é olhar em volta e agir de acordo. Não acreditar em somente uma verdade, mas aceitar outras verdades.

Terminada a sessão, voltamos para casa, tudo normal, etc. Então ontem à noite eu fui ver alguns videos no Netflix, e eles tem algumas séries de palestras do TED, e tem uma que eu gosto de ver que se chama "Rindo com inteligência". São palestras diversas, sobre temas nem sempre "sérios" ou "tecnológicos", algumas somente para fazer rir, outras com alguns pontos mais interessantes. E aí eu assisti a uma de 2002 que tinha muito a ver com o que eu tinha visto na sessão de quarta! É uma palestra da Emily Levine, sobre a "teoria do tudo". Segundo o seu perfil no TED, ela é uma "comediante-filósofa".

O video está abaixo, quem quiser gastar uns 20 minutos com ele é só clicar no botão do play. Tem legendas em português, para quem quiser também.



E quem quiser o link, é esse aqui.

Mas o que isso tem a ver com o kung fu, ou com a sessão de quarta-feira? Vamos lá...

Ela começa a palestra falando como começou no humor, participando de "jogos teatrais", que são jogos de improvisação onde uma pessoa dá uma ideia e os participantes precisam improvisar a partir daquilo. Ela diz que existe apenas uma regra para este jogo, que diz que você não pode negar a realidade do outro, você deve sempre construir a partir daquilo. Por mais que isto gere uma contradição, que vá contra os conceitos que você tem, você não deve rejeitar o que o outro jogador lhe oferece, você deve aceitar aquela "verdade" e trabalhar a partir dela.

Isso já me remeteu ao exercício da guarda, quando a SiFu inverteu a origem da sua força e por alguns momentos eu não aceitei aquilo, inclusive teve uma vez em que eu precisei fazer um movimento muito mais complexo para atingir o que na minha concepção seria o meu objetivo. Tivesse aceitado que o estímulo mudou e me ajustado para agir de acordo com aquela "nova verdade", talvez fosse mais fácil finalizar o movimento e entrar na posição de guarda.

Em seguida ela começa a falar sobre discussões, argumentos, onde uma pessoa tem sempre que ter a razão. Que as discussões são sempre baseadas nos valores dos envolvidos. E que na ciência newtoniana existe um conceito de objetividade, onde o sujeito deve sempre subjugar o objeto. Conceitos de assertividade, voz ativa e voz passiva.

Isso tem a ver com o conflito, a guerra, que é o ponto de partida do nosso estudo do Ving Tsun, como reagir em uma situação de crise. Se você está na posição do subjugado, como fazer para sair desta posição, para conseguir uma vantagem? Como aceitar a verdade apresentada pelo seu agressor e construir a partir dela?

Ela também fala sobre o "heckler", muito comum nas apresentações de stand-up comedy nos EUA, que é o sujeito que fica instigando o comediante, tentando atrapalhar sua apresentação, etc. Ele muitas vezes, na intenção de atrapalhar o espetáculo, fornece novas informações, ou novas "verdades" para o comediante, e este vai continuar sua apresentação levando aquilo em consideração. Se o comediante não aceitar aquela informação, se ele tentar a todo custo seguir o seu roteiro pré concebido, pode até chegar ao seu objetivo, mas vai ser muito mais difícil do que se ele der um "cala-boca" no heckler, para delírio da platéia!

Este é um pouco do papel do mobilizador, claro que não nas mesmas proporções, mas o mobilizador precisa de alguma forma guiar o aluno durante o exercício, fornecendo estímulos para que seja possível executar o exercício ou a tarefa proposta.

Em outro momento da palestra ela aborda mais uma vez a ciência newtoniana, dizendo que nela a matéria tem entre seus atributos a ocupação de espaço e a impermeabilidade, o que me remeteu também à guarda que vimos na sessão. Ocupar espaço e não permitir que outro corpo invada este espaço. Esta deve ser a função de uma guarda, proteger o seu espaço.

Uma grande parte da palestra, do meio para o final, é baseada em um livro que ela disse ter lido, chamado "Trickster Makes This World" (traduzido na legenda como "O Ardiloso Faz O Mundo"), de Lewis Hyde. Lendo este livro ela diz ter encontrado a definição para o seu formato de humor. O "trickster", segundo a palestrante, é um agente de mudança. Um provocador, um "heckler", um mobilizador. E ela começa a listar algumas qualidades do "trickster":

1. Atravessar fronteiras
No caso dela, isso quer dizer "se meter" em assuntos que não domina. Eu vejo isso, no Ving Tsun, como sobrepor dificuldades. Quando ela fala sobre assuntos que não conhece, traz um novo ponto de vista. É o papel do mobilizador, colocando novos elementos para provocar reações, como a SiFu trocando a origem da energia no nosso exercício.
2. Estratégias não oposicionistas
De novo o conceito e aceitar a realidade do outro. Um paradoxo onde se permite que mais de uma realidade coexistam. Devemos aceitar que os coisas mudaram e agir de acordo com as novas circunstâncias.
3. Sorte/Acaso
A figura do "trickster" tem sua mente sempre preparada para o inesperado, tem a habilidade de deixar a mente leve, aberta a novas ideias, ou para ver as contradições e os problemas nessas ideias.
4. Andar na corda bamba/ter desenvoltura
Ela diz que um grande desafio é construir sua apresentação de forma que seja preparada e não-preparada, achar um equilíbrio entre os dois.
Estar muito preparado pode não deixar espaço para os acidentes. E nada nunca vai ser 100% como se espera, sempre vai acontecer alguma coisa, aparecer uma nova informação, que nos fará repensar uma estratégia e reagir àquilo.

Ela diz ainda que procura, em suas apresentações, causar um "curto-circuito" no pensamento das pessoas, fazer com que não sigam a sua linha de associação normal, mas a partir de novos estímulos se reconectar. 

E bem no final da palestra ela levanta uma quinta qualidade do "trickster", que diz respeito a alcançar a beleza (ou a perfeição). O "trickster" pode tenter à beleza, mas para isso tem que se desfazer de todas as outras qualidades. Uma vez que você se aproxima da beleza, entra em um estado finalizado. Mas se deixar que os acidentes aconteçam é possível entrar em uma sintonia, uma onda de probabilidades. Quando se alcança a beleza/perfeição, essa onda de probabilidades desmorona e se transforma em apenas uma possibilidade, em uma verdade.

Então, no final das contas, se não tivesse passado pelas experiências da sessão de quarta, teria visto esse vídeo com outros olhos, e talvez ele nem me interessasse tanto, mas com as novas informações recebidas, foi bem diferente...